Mulheres / Charles Bukowski

01/07/2014 00:00

"Eu tinha cinquenta anos e há quatro que não ia para a cama com uma mulher. Não tinha amigas. Quando passava por elas, na rua ou onde quer que as via, olhava, mas olhava sem desejo e com desinteresse. Masturbava-me regularmente, e a ideia de ter uma relação com uma mulher – mesmo em termos não sexuais – estava muito longe da minha imaginação.”

... e assim, presenciamos o nascimento de um anti-herói.  Esse homem vive à margem sem ser um marginal. Não perde a nenhum bom samaritano, com a diferença de que vai ser exposto ao limite de nossa tolerância. Vai relatar sua vida miserável, sem apiedar-se de si mesmo; com humor, modéstia e narrativa crua. Não vai censurar as palavras, procurar sinônimos comportados, valer-se de metáforas.

É um intelectual obcecado pela escrita, pelas corridas de cavalo – ainda que o animal seja uma entidade inexistente - , pelo álcool, em que composição ou teor, for, e pela mulher como forma de prazer, porque tem medo do amor, que sempre lhe foi negado.

Elas não se importam de serem usadas, se podem fazer o mesmo com ele, para descobrir que espécime raro é esse que apesar do desejo animal,  sobrevive da poesia e refugia-se no delírio da bebida.

Faz de si mesmo um personagem real, sofrido, vivendo na podridão dos becos, rude e áspero. Não lhe faltarão mulheres. Homem nenhum as conhecerá como ele; sua intimidade física e moral. Não tentará ser para elas o que não é para si mesmo.  Justificar-se, prendê-las.

Não tem dinheiro senão para hoje; a prostituta, a bebida, os cavalos, o aluguel. Mal come, o cabelo e a barba sempre por cortar. Mas é generoso, é complacente e se olharmos bem para ele, veremos um pouco de nós em todas as suas facetas, acrescidos senão de alguma hipocrisia.

Confesso, que de um ímpeto só, vasculhei a vida desse homem, lendo metade de sua obra traduzida para o português, iniciando por Mulheres; sua obra de referência.

A surpresa, fica pelo texto a nos seduzir muito menos pela “sacanagem”, que pela transparência com que o autor descreve sua própria vida, sem poupar a quem com ele contracene, o que o autentica e faz pensar quão ficcionais podemos ser.

... alguns trechos

“Lydia não me tinha poupado. As cicatrizes lá estavam,  nariz de alcoólico, a boca de macaco, os olhos reduzidos a fendas, e lá estava também o sorriso estúpido, contente e ridículo de um homem feliz sem saber por quê. Ela tinha trinta anos e eu mais de cinquenta. Não me importava.”

“Eu não gostava de Nova Iorque. Não gostava de Hollywood. Não gostava de rock. Não gostava de nada. Talvez tivesse medo. É isso – tinha medo. Queria sentir-me sozinho num quarto com as janelas fechadas. Eu era doido. E Lydia tinha partido.”

"Lá estava eu, um escritor de sessenta e cinco dólares por semana, sentado com outros escritores, de mil dólares por semana.”

“Ela despiu-se e foi pra a cama. Despi-me e fui para o banheiro. Ela viu-me chegar com um frasco de vaselina.

- O que vais fazer?”

 

 

 

 

 

 

O AUTOR E A OBRA

Charles Bukowski

 
   ISBN: 9788525429346
   Idioma: português
   Encadernação: Capa Dura
   Altura: 23,5 cm
   Largura: 16,5 cm
   Edição: 1/2013
   Número de páginas: 512
   Editora: L&PM
   Gênero: Romance

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