A Sombra do Vento / Carlos Zafón

16/07/2014 21:15
"Numa manhã de 1945, um rapaz é conduzido pelo pai a um lugar misterioso, oculto no coração da cidade velha: o Cemitério dos Livros Esquecidos. Aí, Daniel Sempere encontra um livro maldito que muda o rumo da sua vida e o arrasta para um labirinto de intrigas e segredos enterrados na alma obscura de Barcelona."
 
O cenário deste romance, é a cidade de Barcelona, no início do século passado. Barcelona, para quem nunca a viu, surge de uma névoa fria, os casarões plantados em bucólicos bairros residenciais, ostentando imensos jardins guardados por estátuas, janelas e portas pesadas, labirintos, escadas, porões, sombras e rangidos.
 
Os personagens, tem todos, o seu segredo. Nenhum deles tem pressa de confessá-los. Cada um, é dependente do outro, e juntos, formam uma rede de vidas que sustenta o absurdo de cada um.
 
A mim, não parece a história deste ou daquele que anda à busca de si mesmo. O personagem principal é cheio de palavras, mas nunca às diz. É objeto de obsessão e precisa mais que qualquer um, de abrigo, de proteção. É a história de um livro dentro do livro. Mas não julguem pela capa, que possa ser inofensivo. Ele é capaz de fazer confrontar, homem a homem, de aflorar o ódio; não pelo que seu texto traduz, mas por ser objeto de representação de algo que precisa ser exterminado.
 
A trama é rica. Mal satisfaz uma angústia nossa em resolvê-la e já outra se ramifica, assim, o autor nos alimenta o tempo todo com soluções e enigmas, como se pudesse fazê-lo por uma eternidade, além da última página do livro - o que justifica os outros dois romances: O Jogo do Anjo e O Prisioneiro do Céu.
 
Nessa história cheia de mistério e suspense, o amor parece um descuido do autor, mas é de fato, a energia que alimenta a paixão dos personagens centrais; os conduz, e os envolve a uma cadeia de acontecimentos, ora trágicos, ora de uma pureza delicada, descrita para relembrar uma experiência nossa, qualquer, e não para ser lida, apenas, como se pertencesse a outro par de amantes, reduzidos a mera referência.
Há momentos em que essa delicadeza avança para dentro dos nossos sonhos, porque evoca possibilidades pelas quais ainda desejamos. É o jeito masculino de evocar a mulher, torná-la impossível e razão de todas as paixões.
 
Como se o vento pudesse ou precisasse ser percebido por outro de nossos sentidos, a sombra deixa um rasto obscuro de um calafrio, e nos dá a imagem de uma dimensão que pode nos tocar, nos envolver, sussurrar aos nossos ouvidos, com violência ou serenidade. Ambos estão em todos os lugares e tempos dessa história, mas quando esbarramos neles, continuam tão camuflados pela nossa lógica, que sequer os notamos.
 
A Sombra e o Vento, estão aí, para serem reconhecidos, bastando que se solte os sentidos para além do que se pode imaginar.
 
 
alguns trechos:
 
"E conserva os teus sonhos - disse Miquel. - Nunca se sabe quando irás precisar deles".
 
"Há pessoas que se recordam e outras que se sonham. Para mim, Nuria Monfort tinha a consistência e a credibilidade de uma miragem: não questionamos a sua veracidade, seguimo-la simplesmente até que se desvanece ou nos destrói. Segui-a até ao acanhado salão de penumbras onde tinha a sua secretária, os seus livros e aquela colecção de lápis alinhados como um acidente de simetria".
 
"Naquele amanhecer, e em todos os que se seguiram durante as duas semanas que passei com o Julián, amámo-nos no chão, sempre em silêncio. Depois, sentados num café ou a passear pelas ruas, eu olhava-o nos olhos e sabia sem necessidade de lho perguntar que ele continuava a amar a Penélope".
 
"Um dia, enquanto passeávamos pelo claustro da catedral, o Miquel voltou a insinuar o seu interesse por mim. Fitei-o e vi um homem só, sem esperanças. Sabia o que fazia quando o levei a casa e me deixei seduzir por ele. Sabia que estava a enganá-lo, e que ele o sabia também, mas não tinha mais nada no mundo. Foi assim que nos convertemos em amantes, por desespero".
 
"Quando eu morrer, tudo o que é meu será teu... - ... menos os sonhos".
 
"Lembra-te de mim, Daniel, mesmo que seja num canto e às escondidas. Não me deixes ir".
 
"Bea diz que a arte de ler está a morrer muito lentamente, que é um ritual íntimo, que um livro é um espelho e que só podemos encontrar nele o que já temos dentro".
 
 
 
 

O AUTOR E A OBRA

Carlos Ruiz Zafón

Capa: Silvana Mattievich

Foto/Capa: Francesc Català-Roca

SBN: 856028009x
ISBN-13: 9788560280094
Idioma: português
Encadernação: Brochura
Altura: 23 cm
Largura: 16 cm
Edição:
Ano de Lançamento: 2007
Número de páginas: 400
Editora: Prisa Edições
Gênero: Romance

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