Clarice Lispector

23/07/2014 12:18

Clarice nasceu Haia Pinkhasovna Lispector, em 1920, na Ucrânia, uma das repúblicas da extinta União Soviética. De família judia, chegou ao Brasil com os pais e mais duas irmãs em 1922.

Sua família residiu primeiramente em Maceió e depois em Recife, onde Clarice passou sua infância. Perdeu a mãe em 1930 e, três anos depois, seu pai mudou-se com as filhas para o Rio de Janeiro. No Rio, Clarice formou-se em Direito e foi casada com o diplomata Maury Gurgel Valente, com quem teve seus dois filhos.

Seu primeiro livro foi o romance 'Perto do coração selvagem', lançado em 1943. Clarice morreu em 9 de dezembro de 1977, um dia antes de completar 57 anos.

Olga Borelli - grande amiga - sintetiza: "Defini-la é difícil. Contra a noção do mito, de intelectual, coloco aqui a minha visão dela: era uma dona-de-casa que escrevia romances e contos. Dois atributos imediatamente visíveis: integridade e intensidade. Uma intensidade que fluía dela e para ela refluía. Procurava ansiosamente, lá, onde o ser se relaciona com o absoluto, o seu centro de força — e essa convergência a consumia e fazia sofrer. Sempre tentou de alguma maneira solidarizar-se e compreender o sofrimento do outro, coisa que acontecia na medida da necessidade de quem a recebia. O problema social a angustiava. Sabia o quanto doíam as coisas e o quanto custava a solidão."

Confesso uma certa paixão por Clarice. Havia nela uma tristeza pela incompreensão das coisas. Pela incapacidade, comum a todos nós, de mudar o que nos fragiliza. O que a diferenciava era a inconformidade. Parecia estar sempre num estado de frustração, inclusive em relação a si mesma, sua literatura. Não concordo com a observação de que era uma dona de casa que escrevia. Ela própria não se considerava uma escritora. Não foi reconhecida desde quando merecia, mas tinha uma capacidade de arranjar as palavras com tanta disciplina, com tamanha interiorização, que muitas vezes abandonei o personagem, para ouvi-la, porque ela chega a mim como sentimento, não como construção de qualquer coisa alheia a ela mesma.

Sobre si mesma era implacável. Questionava a forma como se reconhecia, e escrevia, como exercício de compreensão do que era. "Quando não escrevo é porque estou morta." - dizia. E às vezes morria.

Poesia, psicologia, filosofia, está tudo ali, no coração de uma mulher fragmentada que precisa se reconstruir, e compartilha os seus pedaços quase como se nos pedisse perdão por não saber como ser cúmplice. Esconde o seu sorriso e precisamos procurá-lo, não para nós, mas para devolver a ela.

Sem dúvida, uma grande escritora, porque me vem pelo coração. Outras definições, eu não conheço.

 

 

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